Semana passada eu andei de ônibus em São Paulo pela primeira vez. Foi um caminho curto, que demorou uma vida! Não exatamente por causa do ônibus, mas por causa do desagradável trânsito às 14h30 da tarde!
Acho que aqui em São Paulo as pessoas já não se irritam mais com o transito, todo mundo parece conviver bem com ele. Acho inclusive que as pessoas aqui sentem faltam de um engarrafamento quando as ruas estão livres. Exemplo disso é facilmente observado nos finais de semana, quando poucos carros conseguem criar trânsito quando está tudo livre.
É claro que em todo lugar do mundo pode acontecer isso. É só pegar um carro velho ou um péssimo motorista pela frente e pronto! Trânsito criado! Mas a recorrência e intensidade que isso ocorre em São Paulo é impressionante!
Acho que para os paulistas o trânsito é um daqueles amigos antigos e chatíssimos que você não consegue se livrar. Ele está sempre presente e atrapalhando. Mas no segundo que ele desaparece, muita gente sente saudades dele.
Mas o que mais me impressionou nesse “breve” passeio de ônibus, e em mais outras três voltinhas que dei essa semana, foram os passageiros. Na verdade, confirmei o que eu já suspeitava. A maioria dos passageiros dos ônibus são de classe baixa. Aparentemente, os paulistas de classe média e alta acham que ônibus/metro não é “coisa” para eles, porque transporte público é “coisa de pobre”.
Sei que existe muita gente que não acha isso, mas existe sim uma ideia generalizada em São Paulo que transporte público é “coisa de pobre”, o que é, na verdade, uma sandice, um pensamento tolo.
Recentemente li uma entrevista de Enrique Peñalosa sobre cidade e mobilidade sustentável. A entrevista é muito interessante pois faz com que a gente reveja toda a questão do transporte por outro ângulo. Peguei algumas frases que achei mais interessantes e que resumem a entrevista:

Frase de Enrique Peñalosa – Humor Inteligente
“Uma boa cidade, uma cidade avançada não é aquela que os pobres andam de carro, mas aquela que os ricos usam transporte público.”
“Se todos os cidadãos são iguais diante da lei, um ônibus com 60 passageiros tem mais direitos que um carro com um.”
“A boa cidade é aquela em que ricos e pobres se encontram em atos culturais, no transporte público, nas praias, na calçada. Somos pedestres, precisamos caminhar. Não somos felizes em gaiolas, encerrados entre muros. Por isso estamos mais felizes numa calçada de dez metros do que numa calçada de dois metros de largura.”
“A cidade deve ser pensada para crianças, idosos, deficientes, mas geralmente é desenhada para os adultos com carro, um resultado natural do ‘progresso’.”.
Para quem quiser saber mais sobre a entrevista, clique aqui.
O que Enrique Peñalosa falou parece que encaixou perfeitamente com a forma que eu enxergo São Paulo. Por parecer ter sido construída para um adulto de carro, toda a sinergia, cultura e hábitos dos moradores da cidade parecem muito diferentes e um pouco antinaturais para mim.
Não estou dizendo que no Rio ou em qualquer outra cidade brasileira não existam “ricos” que não andem de ônibus, claro que existe! Mas no Rio, mesmo aquela pessoa mais elitista já pegou ônibus na vida e a maioria não vê o transporte público como “coisa de pobre”.
Comecei, então, a pesquisar sobre essa ideia e encontrei um artigo que comparava Rio x São Paulo no Blog do Jorge Fernando. Ele compara as duas cidade em relação a diversos temas, muitos deles eu não concordei, até por que ele é paulista e vai puxar a sardinha mais pro lado dele, assim como eu, carioca, tenho uma tendencia a fazer o oposto. Mas a parte de transporte público é bem interessante:
“Todo carioca pega, já pegou ou um dia vai pegar ônibus, trem ou metrô na vida. Até porque é nesses meios de transporte tão dignos no Brasil que o carioca aprende as primeiras lições de malandragem, como passar por baixo da roleta (“catraca” em São Paulo). Em São Paulo, pegar transporte público é “coisa de pobre”, ou de carioca que mudou para a cidade mas não trabalha no mercado financeiro, já que todo mundo, inclusive quem ganha bem menos do que você, tem carro (o resultado disso pode ser visto na fluidez diária das ruas). Além de a cidade ser maior, é impossível saber que ônibus pegar somente perguntando no ponto. Afinal, ninguém é ‘daqui’. “
Tirando a parte da malandragem (nunca vi ninguém passando por baixo da roleta/catraca, até por que a pessoa teria que ter 30cm) que eu acho que foi mais brincadeira e uma leve “alfinetada”, achei bem verdadeiro!
Adorei a parte do mercado financeiro! É super verdade! Todos os cariocas que eu conheço que se mudaram pra São Paulo são do mercado financeiro e nunca andaram de ônibus por aqui. Vivem de táxi ou de carro, vide o senhor meu namorado.
Achei muito verdadeiro também a parte de ser impossível saber qual ônibus pegar em São Paulo! Eu não iria sobreviver sem o meu amado Google Maps no celular! Isso por que antes de sair de casa, eu estudo o trajeto umas 5 vezes no computador e mesmo assim acabo recorrendo ao Google Maps do celular, só para garantir!
No Rio é diferente. Por ser uma cidade menor, o numero de linhas também é menor, fazendo com que os números das linhas e trajetos sejam mais fáceis de guardar. E essa facilidade faz com que mais pessoas utilizem os transportes públicos. O que é uma contradição bem interessante em relação a São Paulo!
Em São Paulo, a quantidade de linhas e trajetos dos ônibus são infinitas e impossíveis de decorar, mas os transportes públicos dão acesso a muitos mais lugares da cidade e dos arredores. Em São Paulo, dá pra chegar de ônibus em becos ou ruelas que nem imaginamos ser possível (no Rio, os ônibus só passam em meia dúzia de ruas principais). Mas embora as possibilidades de ir e vir de transporte público em São Paulo sejam maiores, ela acaba sendo prejudicada pelo transito gerado pelo excesso de carros, cujos motoristas são “bons demais” para andar de transporte “de pobre”. Gerando um ciclo vicioso.
Aí, não adianta colocar rodizio de carros, zona de máxima restrição de circulação, vias estruturais restritas, zonas exclusivamente residências e etc. O problema está no pensamento da população como um todo. Mas como isso é muito mais difícil para corrigir, o jeito é se acostumar com o transito e com as complicadas linhas de ônibus.
E você, o que acha?
Concorda com Enrique Peñalosa ou tem alguma ideia e ponto de vista diferente sobre essa questão?
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